(DES)ATENÇÃO DE CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR: a importância da restauração da atenção

06/06/2018 15:02

Autora: Natanna Taynara Schütz

Mestranda em Psicologia – UFSC

Integrante do Lapam

 

 

 

 

 

 

 

A aprendizagem escolar é uma tarefa que demanda considerável esforço das crianças (Marchesi, 2006). Para aprender, é necessário a utilização de um processo básico que consiste na atenção (Marchesi, 2006). Segundo (Sbissa, 2009, p. 263), a atenção corresponde a: “capacidade de manter o foco sobre determinada “coisa”, “objeto” ou “processo”. Assim, é necessário que o aluno utilize a atenção para absorver a informação, que será então processada e compreendida, efetuando assim o processo de aprendizagem.

Nos anos iniciais do ensino fundamental, as crianças num geral apresentam um progresso contínuo no que se refere a regular e manter a atenção (Papalia & Feldman, 2013). O que ocorre atualmente, é que a atenção enquanto domínio cognitivo, vem ganhando muita ênfase numa lógica patologizante, visto que, é muito mais percebida pelas pessoas quando está de certa forma prejudicada – estado de desatenção (Ribeiro & Ferreira, 2014). Assim, como tema emergente nas escolas atualmente, a atenção vem sendo classificada dentro de critérios de normalidade entre as crianças, numa perspectiva que avalia o funcionamento binário da atenção – atento/ desatento (Ribeiro & Ferreira, 2014).

Vivenciamos uma sobrecarga da atenção devido aos ambientes construídos que são ricos em estímulos que exigem o direcionamento da atenção, o que mobiliza a atenção direcionada de forma demasiada (Sbissa, 2009). Somado a esse fator, cabe mencionar também o impacto da tecnologia nos alunos, que modifica o estilo de atenção dos mesmos, devido à rapidez em que as informações são acessadas, o predomínio de aspectos visuais e a necessidade de seleção de tudo isso. Todos esses esforços mentais, acabam levando ao que Kaplan (1995) nomeia de fadiga da atenção.

Quando a atenção da criança diminui, a mesma passa a apresentar maior dificuldade em lidar com situações estressantes, sendo necessário que ocorra uma recuperação/ restauração dessa capacidade (Corraliza, Collado & Bethelmy, 2012). Vários estudos apontam a capacidade restauradora de determinados ambientes, como parques, florestas, ruas arborizadas, em função dos elementos naturais contidos neles (Kaplan, 1995; Maller et al, 2005; Berman, Jonides & Kaplan, 2008; White & Stoecklin, 2011; Glesser, 2014; Corraliza, Collado & Bethelmy; 2012; Albuquerque, Silva & Kuhnen, 2016).

Ao investigar os ambientes restauradores, mostra-se necessário estar amparado na perspectiva inerente da restauratividade, que trata do conjunto de aspectos físicos do lugar, e as experiências vivenciadas pela pessoa numa esfera cognitiva, emocional, comportamental e social (Glessler, 2014). O estudos de ambientes restauradores no campo da Psicologia Ambiental sofrem influência de duas principais linhas de pesquisa – Teoria da recuperação psicofisiológica ao estresse proposta por Ulrich; Teoria da Restauração da Atenção proposta por Rachel Kaplan e Stephen Kaplan (Glessler & Günther, 2013).

A Teoria da Restauração da Atenção (Attention Restoration Theory –ART) de Kaplan & Kaplan, foi desenvolvida pelo casal Rachel Kaplan e seu esposo Stephen Kaplan, sob influência dos trabalhos de Willian James com os conceitos de atenção voluntária e involuntária, sendo a ART uma extensão dessa abordagem (Kaplan, 1995; Berman, Jonides & Klapan, 2008; Kaplan & Berman, 2010). Porém, Willian James deixou de considerar que a atenção voluntária pode entrar em fadiga, o que foi reconhecido por Frederick Law Olmsted, arquiteto paisagista, que apontou a necessidade de recuperação da capacidade principalmente no contexto natural (Kaplan, 1995). Nessa teoria preconiza-se a análise da restauração em quatro propriedades, que devem estar presentes para que um ambiente possa ser classificado como restaurador – propiciar experiência restauradora: 1) o afastamento – que consiste em estar longe do cotidiano; 2) o fascínio – que possibilita a atenção sem necessidade de esforço; 3) a extensão – que permite o engajamento através do alcance e da coerência do local; 4) a compatibilidade – que se adequa ao que o indivíduo quer fazer. Assim sendo, na ART, a restauração pressupõe aspectos específicos para viabilizar seu efeito (Glessler, 2014).

 

E ai, você concorda que os ambientes naturais possuem as 4 propriedades restauradoras apontadas pela Teoria da Restauração da Atenção?

 

Referências:

Albuquerque, D. S., Silva, D. S., & Kuhnen, A. (2016). Preferências Ambientais e Possibilidades de Restauro Psicológico em Campi Universitários. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 36 n°4, 893-906.

Berman, M. G., Jonides, J. & Kaplan, S. (2008). The Cognitive Benefits of Interacting With Nature. Association for Psychological Science, 19(12), 1207-1212.

Bronfenbrenner, U. (2011). Bioecologia do desenvolvimento humano: tornando os seres humanos mais humanos. Tradução de: André de Carvalho – Barreto. Revisão técnica: Sílvia H. Koller. Porto Alegre: Artmed, 2011, 310 p.

Campos-de-Carvalho, M., & Souza, T. N. (2008). Psicologia Ambiental, Psicologia do Desenvolvimento e Educação Infantil: Integração possível? Paidéia, Ribeirão Preto, v.18, n.39, p.25-40.

Corraliza, J. A., Collado, & S. Bethelmy, L. Nature as a Moderator of Stress in Urban Children. Procedia – Social and Behavioral Sciences, 38, 253 – 263.

Evans, G. A importância do ambiente físico. (2005). Psicologia USP, 16(1/2), p. 47-52.

Glessler, S. C. (2014). O descanso e a teoria dos ambientes restauradores. Tese de Doutorado: Universidade de Brasília. Brasília, DF. 262 p.

Glessler, S. C., & Günther, I. A. (2013). Ambientes restauradores: definição, histórico, abordagens e pesquisas. Estudos de Psicologia, 18(3), 487-495.

Kaplan, S. (1995). The restorative benefits of nature: Toward an integrative framework. Journal of environmental psychology, 15(3), 169-182.

Kaplan, J., & Berman, M. G. (2010). Directed Attention as a Common Resource for Executive Functioning and Self-Regulation. Perspectives on Psychological Science, 5(1), 43-57.

Kuhnen, A. Interações humano-ambientais e comportamentos socioespaciais. (2009). In: A. Kuhnen, R. M. Cruz, & E. Takase (org), Interações pessoa-ambiente e saúde (pp.15-35).  São Paulo: Casa do Psicólogo.

Laumann, K, Gärling, T, & Stormark, K. M. (2003). Selective attention and heart rate responses to natural and urban environments. Journal of Environmental Psychology, Melbourne, v. 23, n. 2, p. 125-134.

Luz, G. M., & Kuhnen, A. (2013). O Uso dos Espaços Urbanos pelas Crianças: Explorando o Comportamento do Brincar em Praças Públicas. Psicologia: Reflexão e Crítica, 26(3), 552-560.

Maller, C. et al. (2005) Healthy nature healthy people: ‘contact with nature’ as an upstream health promotion intervention for populations. Health Promotion International, Vol. 21 No. 1, 45-54.

Marchesi, A. (2006). O que será de nós, os maus alunos? Tradução de: Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed, 192 p.

Papalia, D. E., & Feldman, R. D. (2013). Desenvolvimento Humano. Tradução de: Carla Filomena Marques Pinto Vercesi et al. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH, 800 p.

Ribeiro, R. B. P., & Ferreira, A. L. (2014). O cultivo da atenção: uma experiência com crianças de 4 e 5 anos. Psic. da Ed., São Paulo, 39, 2º sem., 89-105.

Sbissa, P. P. M. Desenvolvimento da atenção como mecanismo restaurador da saúde. (2009). In: A. Kuhnen, R. M. Cruz, & E. Takase (org), Interações pessoa-ambiente e saúde (pp.261-275).  São Paulo: Casa do Psicólogo.